segunda-feira, 28 de março de 2011

ARTE PRA QUE ARTE?


                                     Vamos direto ao ponto: todo mundo deve ter obra de arte.  Imperativo demais?

STOP-REWIND
ANDY WARHOL
                                      Tenho repetido em algumas conversas informais e também em palestras que participo sobre o tema mercado de arte que as pessoas estão sendo compelidas a consumir arte. Feio usar o verbo “consumir” e “arte” na mesma sentença? Talvez, mas o que percebemos é um fenômeno recente que os hábitos da modernidade estão voltando a eleger arte como símbolo de status, ou seja, compulsoriamente as pessoas estão consumindo mais arte. Mesmo porque as novas mídias e manifestações estéticas estão emaranhadas em nosso cotidiano. Por exemplo, é quase impossível parar em um sinaleiro sem ter que assistir a um microespetáculo circense de malabarismo ou caminhar pelas ruas e não observar os grafites tomando conta das caixas de energia, hidrantes, bocas-de-lobo, muros em ruínas. Não dá pra não ver as vinhetas criativas multimidiáticas na televisão, nas revistas, nos jornais. Estamos falando sobre a invasão da criação, das manifestações culturais, dos recursos artísticos em nossas vidinhas. Os impermeáveis culturais poderiam pensar: “Oh, céus, mas o que fazer para combater isso? Não pedi pra fruir dessa arte! Quero minha parte em dinheiro!”
                                       Por incrível que pareça, muitas pessoas não sabem onde colocar as artes, os artistas na suas vidas. Ou os vêem de forma glamourizada, romantizada, além do alcance ou exatamente o oposto: diminuem o artista, rechaçam a convivência.
                                       É o meu papel e de meia dúzia de heróis locais incutir nas pessoas o convencimento que se cercar de arte é um bom investimento. Heróis cujos únicos superpoderes são a paixão pela criação, pelo inusitado, pelo fabuloso universo dos artistas e suas manifestações de excentricidade e romantismo. Arte é investimento sim! Pecuniário; diletante; poético; sanitário. Nobres ou não, motivos de se investir não faltam. E também só dizem respeito ao próprio indivíduo fruidor, afinal, a teoria mais sincera de apreciação da arte é a da empatia: se a obra te emociona, te diz algo, é válida. E justifica sua existência. Não importando se é bela, se é esteticamente intrigante, se é vanguardista, se é vermelha com bolinhas amarelas. Simples assim.

 PLAY AGAIN
                                         Minha dica pra quem quer se iniciar no meio das artes ou até mesmo iniciar uma coleção com rigor e qualidade é, em primeiro lugar, procurar aconselhamento profissional – existem estudiosos, curadores, artistas experientes e críticos para isso-, outra dica é criar repertório visual através de visitas a museus, galerias e, se tiver acesso, a ateliês; a internet também é uma ótima ferramenta de pesquisa. Alguma leitura sobre história da arte também não faz mal a ninguém. Feito isso, qualquer um passa a desenvolver o próprio feeling a ponto de fazer suas apostas. Obras em suportes tradicionais; papéis são mais baratos, porém originais, prevalecendo sempre em valor agregado às gravuras, prints e outros múltiplos. E arte é, assim como outros investimentos, uma questão de prioridade: deixe de  fazer o pedicure, tomar uns birinaites, comprar o par de tênis da moda e o dinheiro vai sobrar pra comprar um desenho de um artista bacana ou a prestação de uma obra mais cara. Verão como vale a pena.


PAUSE
                                        Muito bem, o argumento está alinhavado, a premissa já está estabelecida, o sujeito e o predicado subentendidos, mas toda narrativa precisa de um conflito. É aí que entram os vilões da cena artística. E não são poucos, mas pra listar alguns: falta de apoio governamental, falta de interesse do cidadão médio, falta de informação de alguns profissionais que vendem arte o que acarreta num desserviço, falta de sensibilidade do empresariado – salvo raras exceções - que ainda não enxergou arte como fator agregante em seus empreendimentos. Enfim: falta!

FOWARD

                                        A transformação está acontecendo; a cena está mais favorável: os artistas estão mais otimistas com os novos espaços para exposições – pequenos ou alternativos ou  sofisticados ou virtuais -  que estão mexendo com as possibilidades de mercado. Claro que cabe a cada artista encontrar seu nicho e investir nele. E vivemos a expectativa de sediar o I Salão de Artes do Centro-Oeste, um evento sério, de grande porte que deve inaugurar o novo espaço de exposições da UFG, tudo sob a batuta do competente Carlos Sena. Vivemos também o momento político de transição, o que sempre traz esperança na renovação do pensamento e nas atitudes. Governo tem obrigação de dar exemplo; tem que estabelecer políticas culturais – de qualidade - que contemplem inclusive a fatia mais pobre da população; tem que promover a inclusão levando artes plásticas, cinema, música e literatura para as periferias. Os museus oficiais do Estado e do Município, respectivamente MAC e MAG, abriram suas pautas para novas propostas de exposições nas temporadas 2010/2011. Ok, isso é obrigação de museu... mas o MAC não o fazia há anos!
                                          A preocupação que fica quando se realiza algo em quantidade  é com a qualidade, mas isso não pertence à grande maioria. Os profissionais da área, os críticos, os especialistas que se ocupem dessa tarefa de tentar separar o joio do trigo. Mas quem faz isso de forma implacável e definitiva é o tempo. Esse sim nos demonstra quem justificou a que veio.


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