sexta-feira, 15 de abril de 2011

VENDO A FESTA

MATÉRIA DE SANDRO TÔRRES PUBLICADA NA ÚLTIMA EDIÇÃO DA REVISTA ZELO, LANÇADA NO COMEÇO DE ABRIL.


           Ah, a diversidade de linguagens! Tão salutar para as artes plásticas. Mais que isso: combustível propulsor das viagens românticas e diletantes dos artistas. Pode soar piegas, mas a arte -  rima ordinária à parte -  não tem regras. Ela transita do absurdo conceito à retratação naturalista e ordinária sem hífens ou barras delimitadoras. Cabe ao olho humano decodificar o que vislumbra.
            E por falar em linguagens e manifestações inusitadas, tragamos à tona um tema pouco recorrente ao goiano de uma maneira geral: o carnaval. Se para o carioca o carnaval definitivamente adquiriu contornos sambísticos de bundas melaninizadas e para os baianos é muito claro  o culto às rimas pobres e melodias vogalizadas e pegajosas do axé, uniformizado com  parangolés vulgares, para os goianos o que seria a definição de carnaval? Um período de escapada para as localidades abundantemente aquosas do Estado ou talvez resignadas idas a arremedos de bailes? Micaretas vertiginosamente compostas, onde a fusão de axé com sertanejo com funk com pop tentam soar naturalmente? E quando tentamos nos ater ao aspecto estético a coisa fica pior. Qual a cara – leia-se ‘estética’ - do carnaval em Goiás?  Periférica, retrô, caipira? Quais os elementos absorvidos como códigos pela população local? Eu sei? Você sabe? Quem sabe? Evidente que devem existir estudos específicos sobre esse tema, mas, cá pra nós, nenhum deles vai me convencer que a identidade goiana desenvolveu DNA próprio relativo ao carnaval. No máximo mimetizou manifestações “importadas”.
Claro que ainda existem por aqui os bravos exemplos de preservação e disseminação da cultura dos carnavais antigamente tidos como tradicionais, embalados pelas marchinhas, é o caso do Carnaval dos Amigos, capitaneado pelo cantor Xexéu e o cartunista Jorge Braga (Salve o Zé Ferino!) e outro exemplo é  a Bateria de  
Carnaval do Largo do Rosário, já em sua sétima edição e formado por profissionais de várias áreas da sociedade que se reúnem pela convivência e pelo entusiasmo à causa, realiza mais uma vez um disputado concurso de marchinhas lá pelos lados da Vila
Boa.
             Foi de posse de algumas absolutas e inegáveis premissas que o curador Gilmar Camilo convidou 12 artistas, alguns designers e outros criadores a desenvolverem trabalhos para uma mostra  com o sugestivo título  “Vendo o Carnaval”, trocadilho alusivo aos verbos ver e vender, segundo os mais atuais compêndios sobre artes, ambas necessidades instrínsecas ao fazer artístico. O resultado foi equivalente a um feriadão: esperado, comemorado e com muito espaço para reflexão. Exibirão por lá sua ótica carnavalística nomes importantes como Divino Sobral, Carlos Sena, Pitágoras, Kátia Jacarandá e outros como, inclusive, o próprio artista que vos escreve.
              Atavismos à parte, o carnaval perdura na tradição brasileira há quase 4 séculos, seja branquinho ou pretinho, seja rico ou seja pobre, seja cachaça ou seja “breja”, vá de samba ou sertaneja, é tudo um grande e mesclado caldeirão. Sorvamos!!

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