segunda-feira, 4 de julho de 2011

OTIMISMO DA ARTE - REVISTA ZELO JLHO 2011

OTIMISMO DA ARTE

A nova cena cultural é extremamente otimista: salões de artes visuais sendo inaugurados com pompa de cidade grande; projetos musicais se emendando uns nos outros; festivais e espetáculos de teatro bem produzidos e organizados; festival de cinema ambiental confirmado e sob nova direção. Enfim, tudo caminhando de vento em popa. Certo? Mais ou menos. Existe a demanda, existe a vontade de realizar da classe artística, entretanto é preciso que lembremos que nem sempre foi assim. Mudanças extraordinárias se efetivaram em nosso Estado, todavia foram necessárias algumas décadas e alguns milhares de brados e clamores para que se olhasse para as atrações locais. Ainda padecemos do terrível complexo da “grama do vizinho”; sabe aquela, que é sempre melhor que a nossa? E o fantasma do marasmo ainda paira e está para a cena artística assim como o fantasma da volta da inflação está para a cena econômica da nação. Os relatos recentes mostram as manifestações da classe artística marchando pelo respeito às categorias e profissionalização e o movimento musical fortíssimo em vários gêneros. Lembremos também do Forum Permanente de Cultura que existe há mais de uma década, engajado pelas causas da classe artística e com participação direta na efetivação das leis locais de incentivo à cultura. É fato que o advento das leis públicas de incentivo – apesar de muito questionadas – alavancaram a produção artística de forma grandiosa e, esperamos, definitiva. Há os que questionem a estrutura e as brechas na lei que permitem que a figura do atravessador seja mais importante no processo que o próprio artista. Enfim, isso é assunto para outra pauta e talvez delicado demais para a proposta de conteúdo leve e ameno dessa bela revista. Isso tudo, esse caldeirão em ebulição, é muito recente na história da nossa jovem capital.
O advento da tecnologia em escala doméstica cumpriu seu papel de difundir e, de certa forma, escoar a produção audiovisual local. Outro aspecto importante é o quanto tem se falado em ‘economia criativa’ em vários setores da sociedade. Mas cabe uma pergunta simples aqui e agora: por que a criatividade tem sido reconhecida em muitos países como um dos mais importantes ativos econômicos? E cabe uma resposta igualmente simples: os números são argumentos mais que suficientes para conferir esse status ao setor cultural. Até o contrabando internacional de obras de artes é o terceiro em volume de faturamento, ficando atrás apenas de armas e drogas. Se ilegalmente a negociação de arte é gigantesca, que dirá se tratada como deve ser e devidamente prestigiada. É de fundamental importância a criação de secretarias especializadas; políticas que fomentem a economia criativa são benéficas e necessárias. Alguns modelos europeus são muito bem sucedidos, como Alemanha e Inglaterra, enxergando a potencialização das categorias culturais como geradoras de receita e entendendo as manifestações culturais cada vez mais ligadas ao comportamento humano como músicas, vídeos, jogos, moda e outras.
O maior desafio de ver a cultura nessa perspectiva econômica é fazer com que os empresários e a sociedade de um modo geral tome essa consciência e passe a entender a cultura como fonte geradora de riqueza e um investimento de alta rentabilidade. O empresariado que já teve sua marca agregada a algum tipo de manifestação cultural de alto nível, colhe os frutos proporcionais ao investimento no setor cultural. Exemplos nacionais como Petrobrás, Itaú, Sesi, Correios, Votorantim e muitos outros gigantes de faturamento econômico também se apropriam do aspecto humano que a arte e a cultura promovem às suas marcas e ainda faturam alto com isso.
Goiás ganhou há alguns anos o status de “celeiro das artes”, graças a alguns artistas plásticos nos anos 70 e 80 e cristalizou isso em ações pontuadas em algumas áreas específicas como dança e artes plásticas (principalmente arte contemporânea) já nos anos 90. De lá pra cá algo mudou na cena local, principalmente na estima dos artistas locais, mas mesmo assim poucos foram os que conseguiram transpor as barreiras geográficas e abstratas do sucesso. O problema que continua sério em Goiás – mas que não é privilégio de nosso Estado – é a falta de incentivo direto na produção, falta de ações educativas, redundando na deficiência no aspecto da formação de público. Os símbolos de status, mesmo com o pujante crescimento econômico do Estado e de alguns setores econômicos como o da construção civil, continuam os mesmos por aqui: arte nem figura em listas de prioridades de quem detem o poder econômico.
O Estado deve fazer sua parte no sentido de conscientização da importância da cultura como valor agregado, porque arte não é passageira, não é apenas diletantismo, não é só romantismo e não demanda grandes investimentos para subexistir. A arte sobrevive a tudo, ao tempo, às adversidades, ao revezes, simplesmente porque é maior.


POR SANDRO TÔRRES – PARA REVISTA ZELO – MAIO/2011

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